Agora os muros da minha escola já não me comportam. Preciso expandir. Explodir e respingar para outros lados. Não posso permanecer inerte diante do aprendizado que já conquistei. Meu âmago foi tocado de tal forma que até meu corpo já não age da mesma maneira. O que estava íntimo transcendeu sobre minhas ações.

(Eliza Kelly)

Dividindo um pouco do que aprendi...

EDUCAÇÃO E DIVERSIDADE - na/da/para a Atualidade: (re) significando o outro - NEPED -UFJF

Espero um dia ver os escritos de pensadores de outrora se transformarem em antiquados para a contemporaneidade!
            Impossível passar inerte diante dos aprendizados. Agora, de posse de alguns – ainda poucos - conhecimentos, reconheço a importância das ações por mim vividas... das marcas deixadas... das experiências que me tocaram.
            Após este tempo de estudos fico pensando como a instituição escolar ainda permanece aprisionada na figura da criança como um “vir a ser”, como alguém a ser preparado para a vida adulta. Sandrelena coloca muito bem como a escola ainda institucionaliza os corpos desde a Educação Infantil, aprisionando-os, para que sejam adultos controláveis, ou seja, disciplinados.  Até mesmo a arquitetura das instituições de ensino é aliada para o processo de tornar o aluno cativo nas salas de aula, privando-as dos espaços abertos onde possam desenvolver sua autonomia, interação e socialização, fazendo escolhas de acordo com suas necessidades. (MONTEIRO, 2008).
            Inicio minha conversa com este pensamento porque estou muito “afetada” (como diz professora Núbia) com as relações escola/aluno/sujeito. Penso que estas organizações de ideias estão muito próximas de tudo que venho estudando ultimamente e atuam complementando minhas (re) (des) construções diárias. Não posso deixar de pensar na frase de Carls Rogers (1987) onde critica a educação formal desde o ensino infantil até a universidade. Dizendo que se trata “da instituição mais obsoleta, incompetente e burocrática de nossa cultura”. Acrescenta, ainda, que a passagem da criança pela escola faz com que ela ‘decresça’ em autonomia e criatividade. Que a universidade não atende aos anseios da vida real e que deve mudar para não perder a importância que exerce. Creio que estamos fazendo este movimento aqui neste tempo/espaço. Pensando coletivamente algumas alternativas para transformar as organizações e práticas escolares. Para tornar o conhecimentos realmente significativos e aplicáveis na vida dos sujeitos, para que possam interagir de maneira competente no meio em que vivem.
            Sabendo que, como bem disseram a Graciele e o Anderson, as tramas que tecem os processos ou organizações escolares são extremamente complexas. É fato que nossas experiências têm grande poder de mudança em nossas práticas. É, também, preciso examinar o caminho percorrido para (re) construir um novo rumo para educação, atentando para a complexidade existente no processo escolar diante da diversidade humana. Realmente é preciso pensar no “ensinoaprendizagem” sob uma nova ótica já que a educação é um processo de troca. As duas ações devem tornar-se algo único, como um movimento dialógico (FREIRE, 1997), simultâneo, que se apresenta com um movimento incontrolável.
            Já passou da hora de romper com estas estruturas educacionais que não levam a um objetivo claro e significativo, onde a organização educacional precisa estar voltada para auxiliar o aluno na edificação humana. Na sua integralidade. Tema tratado pelo professor Tarcísio, apontando Morin (2000) Não por áreas, conteúdos e outras tantas partículas nas quais a educação formal se organiza. Para que isto realmente ocorra é preciso acreditar que a educação é o caminho.
            Sobre Morin (2000) gostaria de acrescentar que este pensador está sempre presente em minha memória discente. Ele ressalta que o sistema educacional está fundamentado na separação das disciplinas e dos sujeitos. Este pensamento auxiliou um processo de metamorfose muito profundo em minhas ideias. Isto porque, desde cedo, nos habituamos a dividir para analisar um determinado foco, deixamos de lado a compreensão como um todo, não aprendemos a relacionar os conhecimentos. Para ele, sistema educacional não permite que as disciplinas entrelacem suas tramas nos diferentes setores das vivências dos seres humanos. Devemos questionar nossas relações com o mundo, com o conhecimento adquirido. Qual é o sentido deste conhecimento? O que ele promove? De que maneira me tocou, me transformou?
            No entanto, para isto, é preciso um desprendimento das práticas atuais, conforme já ditadas por Carl Rogers. Onde é necessário haver uma substituição dos verbos que agem sobre a educação formal. Sendo assim “ensinar” seria: instruir, fazer, guiar, dirigir, transmitir conhecimento deve ser substituído por: querer, desejar, buscar, percorrer.

Ensinar é mais difícil do que aprender, porque o que o ensino exige é o seguinte: deixar aprender. Permitir que o estudante aprenda alimentando a sua curiosidade. (ROGERS, 1985, p. 29)

            Difícil escolher os temas que mais me tocaram, por isto, prefiro deixar registradas apenas fagulhas de todos os momentos que passamos neste curso.
            A professora Luciana Marques (2010) registra que é necessário uma (re) organização escolar num sentido de persuadir o (pre) conceito de normal x anormal. Os papéis sociais se dão na forma do capaz ajudando o incapaz. É preciso vivenciar o pensamento de que a diferença não é “externa a nós”, somos – todos – diversos. Possuímos ritmos de aprendizagens particulares, somos mais - ou menos – propensos a determinados saberes, desenvolvemos – ou não – habilidades diferenciadas, ou seja, resumimo-nos às nossas diversidades, com sujeitos únicos e múltiplos. Aponta, ainda, que o paradigma da ‘comunhão’ defende que ser diferente não mais significa ser oposto ao normal, significa apenas ser diferente. (p. 5).

O outro é ‘outro’ e ponto final. Não se coloca o outro como diferente, mas compreendemos as diferenças como formas concretas da existência, ou seja, como formas possíveis e dignas de se estar no mundo”. (MARQUES, 2010, p. 6)


            Trago esta ideia para junto das percepções da professora Núbia que trouxe a ideia do ‘outro’ e da importância do outro na aprendizagem, no crescimento. Guiou-nos também a refletir sobre nossos olhares sobre estes mesmos ‘outros’ e como pensar nossas percepções sobre o aluno, a escola, a comunidade, enfim. Isto auxilia numa tomada de consciência auxiliando, inclusive, o combate a atitudes estereotipadas. Lembrando que a estereotipia imprime marcas nos sujeitos. Estas podem ser benéficas e promover o sucesso ou maléficas, promovendo o fracasso. Durante o curso tivemos oportunidade de ouvir experiências destes tipos.
            Neste momento, trago para esta conversa Saviani (1996) que diz que para enxergar além é necessário livrar-se dos estereótipos. Desta maneira a ação pedagógica certamente poderá tornar-se mais coerente, mais lúcida e justa, portanto, mais humana e cidadã.

            Para continuar, penso que a frase de Skliar traduz muito bem o que disseram o professor Carlos Rodrigues e Roney Polato quando trazem a tona a questão dos padrões pré-estabelecidos enraizados na sociedade.

Empobrecemos na medida em que pesquisamos e tentamos traduzir em relatórios, utilizando, para tal, referenciais do discurso proprietário ou colonizador no qual estamos mergulhados. (SKLIAR, 2002. p. 214)

            Então, reconheci-me na experiência e fui tocada por ela (LAROSSA, 2002). Neste sentido Skliar (2001) aponta que apenas a formação ou especialização não são suficientes para garantir que o professor torne-se um agente de transformação. É necessário que ele esteja inserido/imerso no contexto escolar para realmente compreendê-lo e compreender-se.
            A professora Carina(a) traz o texto sobre as memórias e suas representações. Tema extremamente importante para que os alunos compreendam que atuam sobre o processo histórico. A partir deste entendimento, são capazes de melhor se situarem diante dos fatos históricos apresentados como verdades incontestáveis. Podem começar um exercício de reflexão, de verificação de outros dados, de outros personagens, enfim, expandir a história para outros campos, não se limitando apenas às datas cívicas. E entendam que cada um coloca a verdade conforme a sua necessidade, sua visão. Certamente a visão do sujeito dominante não será a mesma do dominado. Por isto há necessidade de se (re) conhecer varias fontes. Cada indivíduo imprime suas concepções ao construir um texto. É necessário despertar o aluno para que reflita sobre os contextos em que foram escritos os materiais de consulta, pois traduzem suas ideias sobre os assuntos.
            O historiador (ou aluno historiador) deve praticar o hábito de verificar diferentes fontes, compreender o contexto no qual as fontes foram construídas, concepções ideológicas e políticas de quem as escrevem, enfim, (re) conhecer o material e refletir sobre ele em todos os aspectos possíveis para que se habituem a pesquisar e refletir sobre todos os materiais coletados. É preciso que se dê a devida importância a todos que participaram da história. Isto ourtoga lugar para que o aluno perceba-se como ser integrante e importante da sociedade. Não se tratando, portanto, de mero observador passivo e inerte da sociedade. Frisando sempre que estão incluídos nesta construção histórica da sociedade, ou seja, que este movimento não lhe é distante ou alheio. Que o universo e sua história não se tratam apenas de fatos passados, mas de fatos que estão – e estarão – sendo construídos cotidianamente num movimento incontrolável. A história se faz a cada dia, a cada atitude, cada reflexão, cada (re) estruturação, enfim, a cada “passo” e deslocamento dos/com os sujeitos inseridos na sociedade. A tomada de consciência de (re) conhecer-se propicia a iniciação do aluno como sujeito ativo e capaz de promover mudanças. O estar no mundo ganha um novo sentido, um sentido que atua.
            Finalizando, encontrei um caminho a percorrer. O caminho do ‘buscar’, do compreender para compreender ainda mais. Neste sentido, me proponho a pensar: que sentido faz a minha caminhada como educadora, se não for para auxiliar meu aluno em seu crescimento pessoal, emocional, social, enfim, em todos os campos que envolvem um ser humano?!
     Minha experiência pessoal contribuiu para que minha sensibilidade fosse aguçada e pudesse perceber as dificuldades de meus alunos, suas limitações e anseios. Mudei minhas práticas pedagógicas e minhas “aulas”, que hoje são encontros para promover crescimento, ou seja, agora promovo eventos na escola!

            Para continuar pensando...

A escola não pode tudo, mas pode mais. Pode acolher as diferenças. É possível fazer uma pedagogia que não tenha medo da estranheza, do diferente, do outro. A aprendizagem é destoante e heterogênea.  Aprendemos coisas diferentes daquelas que nos ensinam, em tempos distintos, (...) mas a aprendizagem ocorre, sempre. Precisamos de uma pedagogia que seja uma nova forma de se relacionar com o conhecimento, com os alunos, com seus pais, com a comunidade, com os fracassos (com o fim deles), e que produza outros tipos humanos, menos dóceis e disciplinados. (ABRAMOWICZ, 1997) (b)




(a) Memórias silenciadas, memórias disputadas: os museus históricos e as representações do negro
REFERÊNCIAS

FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia. 2ª edição. São Paulo: Paz e Terra, 1997



LARROSA, Jorge. Notas sobre a experiência e o saber de experiência. Revista Brasileira de Educação, Rio de Janeiro, n. 19, p. 20-28, jan./abr., 2002.


MARQUES, Luciana Pacheco. Os discursos gerados nas relações com as diferenças: desafio atual para a formação em educação. In: DALBEN, Ângela; DINIZ, Júlio; LEAL, Leiva; SANTOS, Lucíola. (Orgs.). Convergências e tensões no campo da formação e do trabalho docente. , v. 1, p. 251-268. Autêntica. Belo Horizonte. MG. 2010



MONTEIRO. Sandrelena da Silva. Infância e identidade: o desafio de ser ou não ser. In: Ressignificando o outro. Editora UFJF. Juiz de Fora. 2008.



MORIN, Edgar. Os sete saberes necessários à educação do futuro / Edgar Morin ; tradução de Catarina Eleonora F. da Silva e Jeanne Sawaya ; revisão técnica de Edgard de Assis Carvalho. – 2. edição – São Paulo : Cortez ; Brasília, DF : UNESCO, 2000.



ROGERS, Carl R. Tornar-se pessoa. São Paulo: Martins Fontes, 1987.


SAVIANI, Demerval. Educação: do senso comum à consciência filosófica. Capitulo 1: A filosofia na formação do educador. Coleção Educação Contemporânea. 11ª edição. 1996.

SKLIAR, Carlos. A educação que se pergunta pelos outros: e se o outro não estivesse aqui? In: LOPES, Alice Casimiro; MACEDO, Elizabeth (Org). Currículos: debates contemporâneos. São Paulo: Cortez, 2002.



SKLIAR, Carlos. Seis perguntas sobre a questão da inclusão ou de como acabar de uma vez por todas com as velhas – e novas – fronteiras em educação. REVISTA PRÓ-POSIÇÕES, jul./nov. 2001.


VYGOTSKY, L. S. A formação social da mente. São Paulo: Martins Fontes, 1987